Clubes brasileiros e as Tesourarias Estaduais de Futebol.

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Devido à realização da Copa do Mundo no Brasil, muitos estádios novos foram levantados, alguns foram reformados e modernizados, e com esses fatores tivemos algumas mudanças nos sistemas de arrecadação em alguns desses aparelhos. Os números chegam aos poucos, e demonstram que os clubes até aqui se mostram muito mais meros instrumentos do que protagonistas nesta área.
Com custo operacional indo em média de 200 mil a 1 milhão de reais por jogo nesses estádios, os lucros dos clubes com os jogos não acompanham proporcionalmente a este custo, levando a situações extremas como o Flamengo levar um pouco mais de 600 mil reais de uma renda bruta de quase 2 milhões de reais. Mesmo considerando que o Flamengo havia contraído um empréstimo com o Maracanã S.A. para despesas ordinárias que foram compensadas em sus arrecadações, a diferença é gritante.
Enquanto isso as federações, ao contrário dos clubes, lucram proporcionalmente de acordo com o novo patamar que gradativamente tentam impor no futebol brasileiro. Isso fica visível no último relatório BDO sobre valor das marcas dos clubes onde as federações de MG, DF e RJ foram as que mais lucraram de 2012 para 2013, justamente o período de reinauguração do Mineirão, Mané Garrincha e Maracanã, respectivamente, uma vez que todas as entidades de administração do desporto ripam de 5% a 10% da receita bruta de cada evento (que nestes momentos de reabertura dos aparelhos giraram em torno de 2 a quase 7 milhões de reais a cada evento).
Com essa realidade, os clubes forçadamente (ou em alguns casos, deliberadamente) embarcam nessa visão luxuriosa de evento nobre para um produto “valiosíssimo”, como tentam vender aos torcedores, do futebol brasileiro, aumentando o valor médio dos ingressos por jogo a um patamar incompatível com a realidade financeira do contribuinte, e com isso esvaziam o próprio produto que costumam superestimar até mesmo no pouco que ainda existe na tradição do esporte, que são suas raízes populares.
Para piorar a situação, temos novamente o caso recente a ser aplicado no Campeonato Estadual do Rio de Janeiro deste ano onde os clubes aprovaram mais uma vez (desta vez apenas Flamengo e Fluminense votando contra) um tabelamento impositivo de valores de ingressos para jogos do campeonato, desrespeitando a autonomia de organização dos jogos prevista ao clube mandante da partida, constante no Estatuto do Torcedor, ignorando a realidade e a estratégia comercial de cada clube para enfrentar seus problemas financeiros – que todos sabem, não são poucos.
Tudo indica que viveremos um período de arrocho econômico no nosso país, e com certeza o negócio do futebol não estará desassociado dessa realidade macro, e os efeitos já observamos no noticiário peculiar de transações que costuma ocorrer aqui início do ano. Se os clubes realmente querem captar novas receitas, um dos passos deveria ser rediscutir esse modelo de arrecadação que privilegia pequenos interesses (dirigentes de federações) em detrimento de muitos (dos torcedores), afinal se os clubes necessitam de novas receitas urgentes para cobrir rombos do passado, é importante otimizar as suas bilheterias com maior transparência e menos custos, fugindo da logica cartorial atual e vigente do sistema federativo na administração do futebol.

Fonte: O Futebol e as Casas de Tesouros
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