Flamengo mantém austeridade, mas avisa “O pior já passou.”

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Alexandre Wrobel, Alexandre Povoa, Flavio Willeman, Mauricio Gomes, Cláudio Pracownik, Eduardo Bandeira, Rodrigo Tostes, Rafael Strauch
O paciente saiu da UTI, mas ainda inspira cuidados. O estado de saúde do Flamengo é estável. A previsão de alta, porém, não é para 2015. O vice de finanças do clube, Rodrigo Tostes, calcula que, ao final da atual gestão, em dezembro, terão sido pagos R$ 300 milhões dos R$ 750 milhões de dívida encontrados pela diretoria em 2013. Já contando os juros sobre o valor que ainda não foi pago, o montante total estará em cerca de R$ 500 milhões ao término deste mandato. Os próximos anos, Tostes prevê, serão de estabilização financeira e maiores investimentos. Ainda assim, sem loucuras.
O DIA: Hoje, qual é a situação financeira do clube?
RODRIGO TOSTES: Encontramos um paciente na UTI. O clube tinha um furo de caixa de R$ 121 milhões em 2013 e uma dívida total de R$ 750 milhões. Hoje, o pior já passou, o paciente já não corre risco de vida, mas ainda não pode deixar o hospital. Nosso endividamento reduziu e nossa receita aumentou significativamente. No entanto, estamos longe de ter uma situação tranquila.
O DIA: O Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG, disse que se o Flamengo se arrumar, não vai ter quem faça frente. Isso está perto de acontecer?
RODRIGO TOSTES: Não acredito nisso. Só vamos voltar a ter um futebol forte no Brasil se tivermos clubes fortes e com saúde financeira. A lógica que um time de futebol forte necessariamente faz um clube forte não é verdadeira. Na realidade, vemos o contrário: a instituição forte e com credibilidade tornará o futebol mais forte a cada ano. Quando isso for totalmente consolidado, em pouco tempo o Flamengo voltará a disputar títulos nacionais e internacionais com consistência. Infelizmente, não acontece da noite para o dia.
O DIA: Essa imagem de que o clube está indo bem atrapalha no mercado?
RODRIGO TOSTES: Os salários no futebol brasileiro estão totalmente distorcidos com a realidade do país. Quando chegamos, quatro profissionais do elenco ganhavam mais de R$ 500 mil por mês. Mesmo assim, o time não jogava bem. Como pode uma instituição que deve R$ 750 milhões pagar isso? Se fosse o Zico, pagaria feliz (risos). O trabalho que está sendo feito pode até gerar esta expectativa no mercado, mas no novo Flamengo não existe espaço para loucuras.
O DIA: Como estará a dívida ao fim deste mandato?
RODRIGO TOSTES: Nestes três anos vamos pagar aproximadamente R$ 300 milhões. Agora, não é uma conta simples de 750 menos 300, porque existem os juros correndo sobre o valor não pago. A dívida total no final de 2015 será de aproximadamente R$ 500 milhões.
O DIA: Quanto está comprometido para que o clube honre seus acordos e mantenha as CNDs em 2015?
RODRIGO TOSTES: As CNDs propiciaram o resgate da nossa credibilidade e com elas arrecadamos R$ 100 milhões entre patrocínios e projetos incentivados. Atualmente pagamos de dívidas do passado para manter as CNDs aproximadamente R$ 60 milhões por ano.
O DIA: Como lidar com a pressão por mais investimentos? O departamento de futebol é compreensível?
RODRIGO TOSTES: Sempre trabalhei com orçamentos apertados. Acho absolutamente normal essa pressão, mas estamos trilhando um caminho definido, não podemos pensar apenas no curto prazo. Sempre fomos muito claros com o Vanderlei. Ele é um grande defensor da nossa austeridade porque sabe que administrar um elenco com salários atrasados coloca em risco o trabalho. Além disso, a chegada do Rodrigo Caetano ajudará ainda mais o clube a priorizar sua capacidade de investimento.
O DIA: É ano de eleição no clube. Como seria um novo triênio dessa diretoria em relação à capacidade de investimento?
RODRIGO TOSTES: Este ano e os três seguintes serão importantes para consolidar as mudanças e estabilizar financeiramente o clube. O Flamengo ainda tem grandes dívidas do passado, mas a boa notícia é que nosso crédito voltou. Vamos continuar honrando todos os compromissos. Nossa capacidade de investimento vai aumentar, mas isso não significa que todos os recursos serão aplicados no time de futebol. Este ano já faremos várias obras na sede social e terminaremos parte do Ninho do Urubu. Ainda assim achamos pouco.

Fonte: O Dia
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