O Campeonato Brasileiro da Série A de 2013 terminou com a maior receita da história (valores não corrigidos). Em contrapartida, porém, o público médio por jogo ficou abaixo do que foi registrado em várias outras edições. Mesmo assim, tanto no público total como no médio apresentou uma evolução em relação ao ano anterior. Parte da explicação para isso está, sem dúvida, na entrada em operação de alguns dos novos estádios construídos ou reformados para a Copa do Mundo 2014, as chamadas “novas arenas”.
Essas e muitas outras informações extremamente interessantes foram apresentadas em trabalho preparado pela área Esporte Total da filial brasileira da empresa de consultoria BDO.
O retorno do Maracanã e do Mineirão foi importante para aumentar o público em jogos dos times do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, que ficaram sem praças com grande capacidade devido às obras nesses dois estádios. Situação que, no Rio, foi agravada pela interdição do Engenhão.
O alto preço dos ingressos, porém, teve reflexos negativos perceptíveis. Se por um lado serviu para grandes rendas, como vimos em Brasilia, no novo Mané Garrincha, por outro afastou uma parte do público. Essa afirmação não pode ser levada ao pé da letra, dado o baixo nível técnico da competição, que em nada motivou grandes torcidas a lotarem os estádios. O time de melhor desempenho e não só nos números como também na beleza do futebol, o Cruzeiro, liderou no público total, na média de público e na receita total, ficando em segundo lugar no valor médio do ingresso, onde foi superado pelo Flamengo por meros oito centavos de real. A diferença foi feita pelos jogos do rubro-negro em Brasília, com um preço médio de estratosféricos 70 reais (praticamente), considerando jogos de campeonato e não de fases decisivas de copas.
Tradicionais puxadores de público e renda ficaram com números bem menores do que os que foram apresentados pelo atual campeão brasileiro, pareando com posições nada animadoras na tabela de classificação, provando que a competitividade, evidenciada principalmente pela disputa de títulos, é a grande força motriz que leva as pessoas aos estádios no Brasil.
As novas arenas impactam público e receitas
Mané Garrincha, Maracanã e Mineirão, ao lado da Arena do Grêmio, e também o Castelão e a Fonte Nova, provocaram impactos significativos nos números financeiros e de público dessa edição do Brasileirão.
Das oito maiores presenças médias, somente duas se deram em estádios fora da Copa: Pacaembu, com o Corinthians, e o Morumbi, com o São Paulo. Considerando o ticket médio, Mané Garrincha e Mineirão lideram com folga, considerando que tiveram, especialmente o Mineirão, maior número de jogos que os demais.
Como mostra a terceira tabela dessa série, as novas arenas tiveram média de público 88% maior que a dos velhos estádios. Uma parte dessa diferença, uma boa parte, na verdade, pode e deve ser creditada à novidade, à curiosidade do torcedor em conhecer o “estádio da Copa” de sua cidade. Outro ponto de atração foi a presença de clubes de massa fora de suas sedes, como o Flamengo em Brasília. Passada a novidade, o futebol ruim somado aos preços elevados levaram a uma diminuição no público, exceção feita ao Mineirão, onde a campanha do Cruzeiro contribuiu para manter a lotação elevada. E os preços foram mesmo salgados, como mostra a última tabela dessa série: nada menos que uma diferença a maior de 90% nos preços médios.
A distribuição por dias e horários
As duas próximas tabelas permitem duas leituras já conhecidas: a primeira é que o domingo à tarde é o horário mais nobre, como de resto acontece há décadas; a segunda é que os jogos das quartas-feiras, às 21:50 ou 22:00 (com horário político), perdem somente para os jogos nos finais de semana, não sendo superados pelos horários alternativos em outros dias úteis.
O desempenho dos clubes
Em que pese a reclamação de algumas torcidas, a verdade é que esse Campeonato Brasileiro de 2013 apresentou baixo nível técnico. A maior prova disso foi o rebaixamento do próprio campeão anterior, cuja reversão em função de decisão do tribunal não alterou em nada o quadro. Igualmente sintomática foi a presença do campeão continental e mundial muito próximo das últimas colocações. Outro ponto: a maioria dos grandes clubes em termos de receitas e despesas com o futebol, terminaram a competição em posições distantes do que normalmente ocupariam. Em suma, foi um típico ano de futebol brasileiro e sua gangorra, provocada na grande maioria das vezes por problemas de gestão. É crônica a incapacidade dos clubes se manterem em boas condições, tanto financeiras como técnicas, de forma consolidada, sustentável.
Em 2013 o Cruzeiro sobrou em todos os itens, inclusive ticket médio, pois a presença do Flamengo à frente, ainda mais por apenas R$ 0,08, é fruto de alguns jogos fora de sua casa, com arrecadações extremamente altas, com forte impacto, sobre o custo médio dos ingressos.
Mesmo com uma péssima campanha, o Corinthians manteve uma média elevada de torcedores em seus jogos no Pacaembu, com um bom valor médio dos ingressos. Em seguida vem o Flamengo, cujo desempenho foi muito fraco nos gramados, mas ainda apresentou boas médias, principalmente pelos jogos em Brasília e os primeiros jogos no Maracanã.
O São Paulo teve uma campanha péssima no Brasileiro, passando boa parte da competição na zona de rebaixamento. Apesar disso apresentou o quarto maior público, mas com a 11ª maior receita, apenas. O motivo foi a drástica redução de preços promovida pela diretoria, visando aumentar a presença da torcida no Morumbi para incentivar o time e ajudá-lo a escapar do rebaixamento. O que foi conseguido, mas dificilmente pela presença da torcida, apesar de declarações nesse sentido de vários jogadores, e sim pelo retorno do treinador Muricy Ramalho, que também empolgou a torcida e contribuiu, decisivamente, para que ela “jogasse” junto com o time.
Na 5ª colocação o Grêmio, usando plenamente sua nova casa, a Arena Grêmio, com um bom valor para o ingresso médio – o quinto maior da competição, mas, na verdade, o quarto, uma vez que a média do Santos foi puxada para cima em função do jogo contra o Flamengo em Brasília, cujo ticket médio teve o valor de 109 reais.
No geral, oito dos vinte clubes apresentaram tickets médios com valor superior ao médio do campeonato, dois dos quais, sem jogos em Brasília teriam médias inferiores à do campeonato.
Podemos dizer que 2013 foi um ano fora da curva média, seja pela entrada de algumas das novas arenas, seja pela debacle técnica. O próximo ano, com a Copa do Mundo, novos estádios e a interrupção do campeonato, também será um ano fora da curva. Somente no final de 2015 começaremos a ter uma real dimensão de a quantas anda nosso campeonato, o que será, uma vez mais, comprometido em 2016, com os Jogos Olímpicos no Rio e o fechamento do Maracanã por um período ainda indeterminado, mas que, seguramente, tomará toda a primeira parte do Brasileiro.
Fonte: Olhar Crônico